terça-feira, 16 de outubro de 2012

Meninos que correm atrás do vento "gospel"

Escrito por Carlos Eduardo B. Calvani, no Mestres – Teologia & Debates

Sou um professor de Teologia em crise com a dificuldade que eu e outros colegas enfrentamos nos últimos anos diante dos novos seminaristas enviados para as faculdades de teologia evangélica. Tenho trabalhado como Professor em Seminários Evangélicos desde 1991 e, tristemente, observo que nunca houve safras tão fracas de vocacionados como nos últimos três anos.
No início de meu ministério docente, recordo-me que os alunos chegavam aos seminários bastante preparados biblicamente, com uma visão teológica razoavelmente ampla, com conhecimentos mínimos de história do cristianismo e com uma sede intelectual muito grande por penetrar no fascinante mundo da teologia cristã. Ultimamente, porém, aqueles que se matriculam em Seminários refletem a pobreza e mediocridade teológica que tomaram conta de nossas igrejas evangélicas.
Sempre pergunto aos calouros a respeito de suas convicções em relação ao chamado e à vocação. Pois outro dia, um calouro saiu-se com a brilhante resposta: “não passei em nenhum vestibular e comecei a sentir que Deus impedira meu acesso à universidade a fim de que eu me dedicasse ao ministério”…
A grande maioria dos novos vocacionados chega aos Seminários influenciada pelos modismos que grassam no mundo evangélico. Alguns se autodenominam “levitas”. Outros, dizem que estão ali porque são vocacionados a serem “apóstolos”. Ultimamente qualquer pessoa que canta ou toca algum instrumento na Igreja, se autodenomina “levita”. Tento fazê-los compreender que os levitas, na antiga aliança, não apenas cantavam e tocavam instrumentos no Templo, como também cuidavam da higiene e limpeza do altar dos sacrifícios (afinal, muito sangue era derramado várias vezes por dia), além de constituírem até mesmo uma espécie de “força policial” para manter a ordem nas celebrações.
Porém, hoje em dia, para os “novos levitas” basta saber tocar três acordes e fazer algumas coreografias aeróbicas durante o louvor para se sentirem com autoridade até mesmo para mudar a ordem dos cultos. Outros há, que se auto-intitulam “apóstolos”. Dentro de alguns dias teremos também “anjos”, “arcanjos”, “querubins” e “serafins”. No dia em que inventarem o ministério de “semi-deus” já não precisaremos mais sequer da Bíblia.
Nunca pensei que fosse escrever isso, pois as pessoas que me conhecem geralmente me chamam de “progressista”. Entretanto, ultimamente, ando é muito conservador. Na verdade, “saudosista” ou “nostálgico” seriam expressões melhores. Tenho saudades de um tempo em que havia um encadeamento lógico nos cultos evangélicos, em que os cânticos e hinos estavam distribuídos equilibradamente na ordem do culto. Atualmente os chamados “momentos de louvor” mais se assemelham a shows ensurdecedores ou de um sentimentalismo meloso. Pior: sobrepujam em tempo e importância a centralidade da Palavra e da Ceia nas Igrejas Protestantes. Muitas pessoas vão à Igreja muito mais por causa do “louvor” do que para ouvir a Palavra que regenera, orienta e exige de nós obediência. Percebo que alguns colegas pastores de outras igrejas freqüentemente manifestam a sensação de sentirem-se tolhidos e pressionados pelos diversos grupos de louvor. O mercado gospel cresceu muito em nosso país e, além de enriquecer os “artistas” e insuflar seus egos, passou a determinar até mesmo a “identidade” das igrejas evangélicas. Trata-se da “xuxização” (“todo mundo batendo palma agora… todo mundo tá feliz? tá feliz!”) do mundo evangélico, liderada pelos “levitas” que freqüentemente aprisionam ideologicamente os ministros da Palavra. O apóstolo Paulo dizia que a Palavra não está aprisionada. Mas, em nossos dias, os ministros da Palavra, estão – cativos da cultura gospel.
Tenho a impressão de que isso tudo é, em parte, reflexo de um antigo problema: o relacionamento do mundo evangélico com a cultura chamada “secular”. Amedrontados com as muitas opções que o “mundo” oferece, os pais preferem ter os filhos constantemente sob a mira dos olhos aos domingos, ainda que isso implique em modificar a identidade das Igrejas. E os pastores, reféns que são dos dízimos de onde retiram seus salários, rendem-se às conveniências, no estilo dos sacerdotes do Antigo Testamento. Um aluno disse-me que, no dia em que os evangélicos tomarem o poder no Brasil acabarão com o carnaval, as “folias de rei”, os cinemas, bares, danceterias etc. Assusta-me o fato de que o desenvolvimento dessa sub-cultura “gospel” torne o mundo evangélico tão guetizado que, se um dia, realmente os evangélicos tomarem o poder na sociedade, venham a desenvolver uma espécie de “Talibã evangélico”. Tal como as estátuas do Buda no Afeganistão, o “Cristo Redentor” estará com os dias contados.
Esses jovens que passam o dia ouvindo rádios gospel e lendo textos de duvidosa qualidade teológica, de repente vêm nos Seminários uma grande oportunidade de ascensão profissional e buscam em massa os seminários. Nunca houve tanta afluência de jovens nos seminários como nos últimos anos. Em um seminário em que trabalhei, os colegas diziam que a Igreja, em breve teria problemas, pois o crescimento da Igreja não era proporcional ao número de jovens que todos os anos saíam dos Seminários, aptos para o exercício do ministério. A preocupação dos colegas era: onde colocar todos esses novos pastores? Na minha ingenuidade, sugeri que seria uma grande oportunidade missionária: enviá-los para iniciarem novas comunidades em zonas rurais e na periferia das cidades. Foi então que um colega, bastante sábio, retrucou: “Eles não querem. Recusam-se! Querem as Igrejas grandes, já formadas e estabelecidas, sem problemas financeiros”.
Na maioria dos Seminários hoje, os alunos sabem o nome de todas as bandas gospel, mas não sabem quem foi Wesley, Lutero ou Calvino. Talvez até já tenham ouvido falar desses nomes, mas são para eles, como que personagens de um passado sem-importância e sobre o qual não vale a pena ler ou estudar. Talvez por isso eu e outros colegas professores nos sintamos hoje em dia como que “falando para as paredes”. Nem dá gosto mais preparar uma aula decente, pois na maioria das vezes temos sempre que “voltar aos rudimentos da fé” e dar aos vocacionados o leite que não recebem nas Igrejas. Várias vezes me vi tendo que mudar o rumo das aulas preparadas para falar de assuntos que antes discutíamos nas Escolas Dominicais. Não sei se isso acontece em todos os Seminários, mas em muitos lugares, o conteúdo e a profundidade dos temas discutidos pouco difere das aulas que ministrávamos na Escola Dominical para neófitos.
Sei que muitos que lerem esse desabafo, não concordarão em nada com o que eu disse. Mas não é a esses que me dirijo, e sim aos saudosistas como eu, nostálgicos de um tempo em que o cristianismo evangélico no Brasil era realmente referencial de uma religiosidade saudável, equilibrada e madura e em que a Palavra lida e proclamada valia muito mais que o último CD da moda.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O peso da vida

 


Tem um livro chamado "A Insustentável leveza do ser" nele se discute de forma filosófica a leveza (liberdade) versus peso (comprometimento). A leveza, porém, despe a vida de seu sentido. O peso do comprometimento é uma âncora que finca a vida a uma razão de ser, qualquer, que se constrói - sob uma perspectiva existencialista.

Falando de outro grande pensador, Jesus, ele diz que fomos chamados para a liberdade, mas não essa liberdade descompromissada retratada no livro, ele fala da liberdade de podermos  fazer aquilo que nos propomos a fazer. Muitas vezes, vícios e comportamentos compulsivos nos fazem escravos de nosso desejo, fazemos o que nossos impulsos determinam, e não somos capazes de impor nossa vontade sobre nada. Essa vã liberdade é uma expressão de uma vida sem ordem, sem princípios, o que nos faz devagar no tempo e no espaço, sem rumo.

Jesus diz outra coisa que cabe nesse comentário: ... pegue sua cruz e siga-me.  Aqui tem outra parte do texto representada. O peso da existência pode ser entendido aqui como o carregar a cruz. A cruz é o esforço, determinação, vontade, envolvimento, entrega, compromisso. É entender que os terrenos acidentados da vida (problemas, doenças, etc..) devem ser atravessados, sem atalhos.

Agora saindo um pouco do existencialismo e indo mais para o evangelho, Jesus também disse que seu fardo era suave e seu jugo era leve. Que se lançássemos sobre ele as nossas angústias ele iria nos aliviar do peso do mundo. Que estaria ao nosso lado nos momento difícieis e que não nos daria nada que não pudéssemos carregar. Que podemos viver a vida compromissadamente, mas sem nos atolarmos nos problemas da vida. É buscar fazer o melhor, e se nos cansarmos, ele renova nossas forças e dá paz ao nosso coração. A existência pode ser um peso, mas a vida em Jesus é a liberdade de se escolher ficar junto, de ir até o fim, custe o que custar, que não vamos parar na primeira barreira. É esvaziar-se para sentir-se pleno, é doar para receber, é sacrificar-se para ressucitar.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ainda é tempo





A gente passa a vida correndo, são projetos a começar, a terminar, e outros inacabados... Diariamente somos submetidos a uma rotina exaustiva: trabalho, estudo, obrigações familiares. Vemos o tempo passar e nossos sonhos irem escapando por  nossas mãos. O que desejamos que acontecesse no último ano? O que desejamos no último mês? O que nos alegrou na última semana? Tudo passa num ritmo virtiginoso.

Por que fazemos tantas coisas? Para prosperar? Para agradar aos pais? Para agradar aos amigos? Por que perdemos tempo com tantas banalidades, que só nos fazem desviar de nosso caminho? É comum em algumas horas nos acharmos perdidos, procurando uma razão pra tudo que fazemos, ou melhor, para alguma coisa que fazemos, porque tudo parece mecânico e repetitivo, e não temos prazer algum em nossa rotina.

É verdade que rotina já carrega uma série de conotações ruins. Vamos chamar de dia-a-dia. Penso que na vida não é o tanto que se corre que vale a pena, e sim o caminho que se percorreu. O povo de Israel ficou 40 anos no deserto dando voltas. Pois não abandonava velhos costumes dos egípicios e Deus estava preparando uma nova geração para entrar na terra prometida.

É hora dessa geração acostumada as dificuldades assumir seu lugar, tomar a frente na batalha, se colocar de pé frente aos desafios e testar sua fé, que tem sido aperfeiçoada a cada dia no calor do deserto. Deserto esse que muitos de nós vivem, olhando ao longe, de onde só se vê areia. Mas mesmo assim, esses perseverantes viajantes continuam andando para o tão sonhado paraíso prometido: a terra que emana leite e mel.

Não sabemos se vamos encontrar tal lugar aqui na terra, acho que nossa passagem aqui tem muitos desafios, mas Deus sempre prepara alguns oásis, ou faz descer maná do céu. Nos guia com uma coluna de fogo pela noite gélida do deserto. Em resumo, o deserto não é mais o mesmo com Deus, pois ele nos faz prevalecer sobre ele. Nos faz mais fortes e mais resistentes, os tolos caem pelo caminho, suspirando por um mundo que não podem ter mais, pelas primícias do Egito, das quais eles só tinham migalhas, mas alguns ainda sonham com essas migalhas.

Quanto a mim, continuo na caminhada, a cada desafio, confio mais no Senhor, quanto mais fico em apuros, mais clamo a Deus. Ainda é tempo de repensar os desejos, os objetivos. Pensar naqueles que te amam e você ama. Há tempo de estar com amigos e entes queridos, de dar risadas dos bons momentos da vida, daqueles que guardamos com saudades. Ainda há tempo de olhar para si, de olhar para o outro e saber que somos irmãos e dependemos um dos outros. É tempo de confiar em Deus mais e mais e a cada dia um tanto mais.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Hipócritas no amor



No post “O abismo chamado hipocrisia“, aqui do APENAS, tratamos em detalhes a questão desse pecado que, em sua raiz etimológica, tem o sentido de “alguém que desempenha um papel”. Ou seja, hipocrisia tem a ver com fingimento, teatralidade, mentira, falsidade. É quando vocé finge ser, sentir ou pensar algo que não condiz com a realidade. Ocorre que, em minhas leituras bíblicas, descobri, inesperadamente, que as Escrituras dão importância, embora muitos não saibam, a um pecado pouco falado que é a hipocrisia no amor.

Quando falamos de amor, é preciso que haja pelo menos dois participantes: o que ama e o que é amado. Isso em qualquer instância: amor entre homem e mulher, pai e filho, Deus e o homem. Então, se as Escrituras nos advertem sobre hipocrisia no amor, isso significa que há a possibilidade de ou o ser que demonstra amor ou o ser que recebe esse amor não estar sendo 100% sincero na realização desse sentimento. Foi quando me deparei com Romanos 12.9, onde Paulo, num contexto que fala sobre a racionalidade do cristão, ordena: “O amor seja sem hipocrisia”.
Nunca tinha reparado com atenção nessa ordenança: “O amor seja sem hipocrisia”.
E o apóstolo do Senhor é tão rigoroso nessa questão que compara o amor hipócrita a um mal que deve ser “detestado”. Tanto que a sequência do versículo estabelece: “Detestai o mal, apegando-vos ao bem”. Ou seja, aos olhos do apóstolo que, cremos, falou inspirado pelo Espirito Santo, fingimento numa relação amorosa é algo definitivamente detestável aos olhos do Senhor.


Fato é que muitos de nós vivem suas vidas amorosas de forma bastante hipócrita. E nao estou falando de adultério, mas de hipocrisia numa relação legítima. E isso em diversos âmbitos. Tive uma colega de trabalho que mentia ao marido sobre quanto dinheiro gastava por mês. Já aconselhei na igreja pessoas que simulavam orgasmos para agradar o cônjuge em vidas sexuais frustradas. Sei de casos de cristãos que mantém relações íntimas com seus cônjuges imaginando estar com outras pessoas. Conheço jovens moças de igreja que namoram rapazes só porque eles têm dinheiro, carro do ano e lhes oferecem outras vantagens materiais. Existem casais cristãos que vivem juntos sem expor com sinceridade plena aquilo que sentem e pensam. E há, até, quem se case sem amor porque… bem, para ser honesto, nem sei por quê.


“O amor seja sem hipocrisia” é mandamento do Senhor. Seja em que âmbito for. Não ame a Deus com subterfúgios. Não finja que ama quem não ama para que isso te gere benefícios financeiros. “O amor seja sem hipocrisia” significa, na prática, que o amor deve ser sem fingimentos. Deve ser franco. Transparente em todos os sentidos. Se houver problemas, que se busque o diálogo aberto e a oração. A tônica da sinceridade em um relacionamento amoroso segundo os padrões de Cristo é:  ”Amado meu, o que o ocorre é isso, isso e isso. Vamos trabalhar juntos para que não haja nenhum fingimento em nossa relação?”. Caso contrário, se você persistir na teatralidade, estará persistindo naquilo que Deus detesta. É o que tenho tentado viver em plenitude na minha vida depois que esse trecho da Bíblia caiu na minha cabeça como uma bigorna. “O amor seja sem hipocrisia”. Uau. Que mandamento.

Geralmente, quando pensamos em algo detestável aos olhos de Deus no âmbito da relação a dois entre homem e mulher, só o que nos vem à cabeça é o sexo fora do casamento e a traição. Será? Pois, se eu ou você trazemos a hipocrisia para dentro de uma relação de amor, diz Paulo, também estamos fazendo algo que, assim como todos os demais deslizes relativos a essa área de nossa vida, é biblicamente detestável.
Adultério, fornicação ou hipocrisia no amor… será mesmo que algum desses pecados é pior do que o outro?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Extraído do Blog Apenas1
http://apenas1.wordpress.com/
Escrito por Maurício Zágari

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Amor platônico e o namoro cristão



Essses dias assisti uma entrevista da Sara Sheevah na Rede TV que falava do culto das princesas. Entre outras coisas Sarah falou de sua conversão e confessou que sua vida sexual antes da conversão era bem complicada. Ela é conhecida por fazer o culto das princesas, um tipo de reunião só de mulheres onde dá conselhos sentimentais e comportamentais.

Gostaria de falar do segundo ítem: comportamento. A pastora em questão condena as atitudes de moças e mulheres que adotam atitudes e se utilizam de roupas que depreciam sua imagem, fazendo-as parecer como mulheres fáceis. Ela se utiliza do termo cachorra e outros onde a mulher é vista como objeto sexual e não um indivíduo com sentimentos e ambições.

É visível nos nossos dias que a moda e a publicidade impõem padrões de beleza e vestimenta inadequados, com roupas extravagantes e extremamente sensuais. As mulheres que tentam seguir o padrão de beleza das revistas tem uma tarefa ingrata, pois se frustram com a magreza das modelos e se vestem como se estivessem embrulhadas para presente, um presente erótico. Não critico aqui a valorização da beleza da mulher e sim a degradação da mesma, quando transformada em mercadoria. Onde não se observa o estilo pessoal, seu gosto, valores e religião. Se impõe um padrão que todos devem seguir cegamente.

Além da apresentação pessoal outra crítica é a de se ter muitos relacionamentos e sem profundidade, fica-se com um hoje, outro amanhã e assim vai. Não se conhece ninguém pra valer e não se investe na relação. Isso é prejudicial pra qualquer um que aspira ter uma relação estável.

Agora gostaria de falar do que chamo de relação afetiva platônica. Temos a tendência de idealizar. Queremos um emprego assim, um carro assado, um namorado (a) desse jeito... e assim vai. Sabemos que muitas vezes nos apaixonamos por alguém que não necessariamente tem todas as característica idealizadas. Somos traídos pelo coração. Com a convivência percebemos que a pessoa tem seus defeitos e suas virtudes não são tantas assim. Ficamos frustrados e pensamos se ela é realmente a pessoa certa.

Sarah Sheeva dá dicas para não se envolver fisicamente antes de conhecer bem a pessoa. Deve-se buscar uma comunhão de alma, buscar afinidades, saber se as características de cada um se somam. Bons conselhos. Mas me chama a atenção essa coisa de príncipe e princesa. Esse título tira qualquer um de uma condição comum. O que já nos leva a pensar em pessoas especiais. E me preocupa essa distinção, pois por mais benéfica que ela parece, estamos discriminando pessoas. Essa classificação não pode se basear apenas em condição sócio-econômica. Senão só os bem-sucedidos se casariam. Ela deve incorporar valores morais e princípios cristãos que devem ser compartilhados por ambos.

Acredito que não há relação sem conflito... e não há ser humano perfeito, assim qualquer pretendente terá prós e contras. Fora a paixão inicial temos que ter outras condições que nos façam permanecer com a pessoa: ter princípios similares, afinidades, nível sócio-cultural próximo e principalmente: a mesma fé. Isso não garante a estabilidade da relação, mas ajuda a evitar conflitos demasiados. Acredito que o amor e perdão vão andar sempre juntos numa relação. E que ambos vão precisar ter tolerância e paciência, pois ambos estão em constante transformação, pois Cristo trabalha a cada dia em nosso ser.

Nos casamos com pessoas de carne e osso. Paixões idealizadas são muito boas para venderem revistas, livros, novelas e filmes. Mas quem convive diariamente com o parceiro é você, e só você sabe o quanto é boa essa caminhada e o quanto ela lhe custa. Pois assim como temos um ombro amigo para nos apoiar, também temos alguém para cuidar quando esse alguém precisar. É um caminho de mão dupla.

sábado, 3 de dezembro de 2011

O homem é a medida de todas as coisas



Protágoras foi um pensador grego que cunhou essa frase: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." Me chama muito atenção a mesma, pois  me faz pensar em nossos dias. Primeiro gostaria de contextualizá-la na época que foi escrita.
Nosso pensador em questão propunha uma idéia que era contrária a de Sócrates: que toda coisa na terra tem uma representação original e perfeita, buscando um princípio que regesse a vida. Protágoras destaca a relatividade das coisas, já que o homem é a referência, cada homem terá sua concepção de mundo conforme as suas experiências de vida.

Seguindo esse raciocínio: aquilo que é verdade pra mim, não será verdade pra você, pois dependerá do ponto de vista de cada um. Hoje temos muito claro esse relativismo de pensamento, a começar pelas variedades de idéias que surgem todos os dias. A filosofia, a psicologia e as ciências sociais buscam explicar o mundo, cada uma a sua maneira e com abordagens distintas. Mas e a igreja, onde fica nessa história?

São tantos as ideologias pregadas nos púlpitos que fica difícil saber da onde saiu aquilo. Primeiro a formação de muitos pastores é raza, muito pessoal e através de coisas que se ouviu aqui e ali. Fora isso, os tantos outros que tem formação em seminário, ao longo da estrada vão se deixando contaminar por teorias que vão borbulhando por aí. Conheço pastores que a 20 anos atrás tinham um ponto de vista do evangelho e hoje estão na onda profética da prosperidade. Onda que por sinal arrastou muitas igrejas, líderes e rebanhos.

Mas vamos lá. Se convivemos com pontos de vistas diferentes e cada um tem a sua verdade, então não existe uma única verdade? Descartes percebeu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição "cultural" influenciam a forma como as pessoas pensam naquilo em que acreditam. Assim buscou uma metodologia que partia do princípio da dúvida, se algo existe tem que haver uma forma de provar. Seu modo de pensar influênciou o método científico e o racionalismo. Segundo Descartes algo não existe por si só, ela tem que ter evidência da sua existência. Se o ar existe, temos que provar, mas como se não o vemos? Quando enchemos uma bexiga e ela se expande, por exemplo.

Agora como saímos do relativismo apregoado por Protágoras e identificado e combatido por Descartes. Como chegar num consenso sobre Deus e sobre e o evangelho de Cristo? É difícil estabelecer um método como Descartes desenvolveu, seria o racionalismo uma forma de responder nossas dúvidas? Acho que não. Uma forma que procuro usar é estabelecer princípios norteadores. Penso que o evangelho está baseado em três valores: amor, graça e justiça.

Amor: Deus amou o mundo e deu seu único filho. Esse amor nos aproxima de Deus, e nos faz retomarmos uma relação que estava interrompida.

Graça: É a condição sem a qual não poderíamos caminhar em direção a Deus, pois somos falhos, e nossos pecados nos manteriam longe de Deus, assim, por causa do sacrifício de Jesus somos sustentados quando nossos pés vacilam.

Justiça: Fomos justificados dos nossos pecados podendo ter vida nova, e se alguém nos causa dolo, Deus julgará em momento oportuno. Se sofremos injustamente, ele, a seu tempo, nos saciará da nossa fome de justiça, como diz no sermão do monte. Só nos pede que usemos os mesmos pesos e as mesmas medidas: se fomos perdoados, também devemos perdoar.

Com esses princípios fica mais fácil sair da subjetividade de cada um. Deixamos de pensar que somos os mais importantes, pois o amor foi a dedicado a todos. Paramos de pensar que estamos sempre certos, pois não há um justo sequer, todos somos passíveis a erros. E começamos a achar que o que fazem contra nós não é pior do que fazemos para os outros. Pois se o perdão nos alcançou, devemos ser gratos a Deus por isso, e devemos estendê-lo aqueles que nos ofenderam. Pois não somos melhores e nem maoires que Deus. E nossos pecados a Deus são muito mais graves do que os pecados dos outros contra nós. Pois Deus é justo e perfeito e nós não.

Esse texto busca trazer uma reflexão de como nos enganamos muitas vezes com frases de efeito e pregações exautadas, que nada mais fazem do que inflar nossos egos, nos fazer achar superiores que os outros (escolhidos), de alimentar a cobiça e a ganância através dos acumulos de bens (teologia da prosperidade). Destacar esses 3 princípios que unandam o novo testamento e que devem nortear a vida de todo aquele que se diz cristão.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Se a vida fosse como no twitter, o que vc colocaria no seu perfil para o diabo saber quem vc é?



O Cristianismo passou por muitas transformações desde o seu surgimento. Da igreja primitiva, a dispersão pelos povos antigos, a constituição da igreja católica, a cisão que gerou a igreja ortodoxa. O movimento protestante, o pentecostalismo e o neo-pentecostalismo. Isso resultou nos nossos dias uma série de denominações e comunidades cristãs. Umas com maior organização e estrutura hierarquizada, outras vivem com mais simplicidade e num ambiente fraterno e igualitário.

Veja bem que isso é uma simplificação de toda a multiplicidade de estruturas e organizações religiosas que existem hoje em nome de Cristo e uma variedade vasta de doutrinas e ritos religiosos denominados cristãos. Não vou entrar no mérito da questão doutrinária, no que concerne a dizer que tal movimento está mais próximo do evangelho da verdade ou aquele outro se distanciou. Não faço aqui um tipo de carta Paulina com fins doutrinários. Mas gostaria de tratar daquilo que identifica um cristão na sua essência.

Em Atos, capítulo 13, versículos 13-16 um espírito maligno faz uma pergunta: “Eu conheço Jesus, e conheço Paulo. Mas vocês, quem são?” Muitos conhecem essa passagem, quando um grupo de judeus, filhos de um líder da sinagoga tentam espulsar demônios "em nome de Jesus, a qual Paulo prega". O desfecho foi assustador, os 7 levaram uma surra do endemoninhado e fugiram nus e muito feridos. É justamente essa pergunta que gostaria que fosse feita a nós: Vocês, quem são?

Alguns de nós talvez gagejem, falem o seu nome, o nome de seu pai, o nome do pastor, da igreja que congregam, sua profissão ou onde estudam. Mas será que isso bastaria para que o endemoninhado nos respeitasse e fujsse de nós? Acho que não. Aqueles escomungadores judeus aprenderam uma lição de forma dura: não podem apenas falar em nome de Jesus, tem que ter vínculo com ele, ou estar debaixo de sua autoridade. Alguém que não conhece Jesus como Salvador, não pode fazer uso de seu nome para expulsar demônios, pois essa autoridade foi dada a seus discípulos (seus seguidores).

Outra coisa, não basta ser de família religiosa, aqueles 7 o eram e isso não os livrou da surra e da vergonha. O fato de nascermos em lar cristão não nos faz automaticamente cristãos, temos que reconhecer o senhorio de Cristo e fazer sua vontade. Digo isso, pois muitos acham que nascendo em lar cristão já estão salvos, independente de suas ações. Lembro que a salvação é individual e que ninguém pode nos dá-la ou emprestá-la. Falo isso, com pesar no coração, pois como pai gostaria que meus filhos estivessem com passe livre para o céu, mas isso dependerá deles e de meu testemunho como cristão.

Então? Qual qualidade ou característica nos qualificaria para nos identificarmos com Jesus, assim como Paulo o foi? Em 1o. João 2 : 3-6, temos assim:

Sabemos que o conhecemos, se obedecemos aos seus mandamentos.
Aquele que diz: "Eu o conheço", mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.
Mas, se alguém obedece à sua palavra, neste verdadeiramente o amor de Deus* está aperfeiçoado. Desta forma sabemos que estamos nele:
aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou.

Andar como ele andou... Se eu fosse contratado para fazer o perfil de Jesus, destacaria essas características: paciente, conciliador, manso, amigo, honesto, verdadeiro, justo, amoroso, santo e humilde. Lendo os evangelhos é fácil tirar atitudes que refletem essas qualidades. Uma vez ele livrou uma adúltera de ser apedrejada (justo), outra vez lavou os pés dos díscipulos (humilde), outra deixou um de seus discípulos dormir no seu peito (amoroso), outra chorou pela morte de uma pessoa querida (amigo), deixou-se ser preso sem relutar (manso). E por aí vai. Deixo aqui uma pergunta: Qual dessas características você pode associar ao seu perfil?